Ética no Design

Você já parou para pensar no impacto que seu trabalho tem na vida das pessoas, e na sociedade como um todo? Já se perguntou quais implicações podem ter suas escolhas? Questionar suas atitudes é uma preocupação indispensável que todo designer deve ter. A maneira com a qual você desenvolve um projeto, interage com seus clientes e faz negócios precisa ser ética e moral, respeitando todos os envolvidos no processo.

Ao estudar sobre ética, você vai conseguir ter uma ideia melhor sobre como criar produtos que se alinhem com seus valores morais — e isso vai além de práticas como obedecer a direitos autorais. Então vem com a gente explorar a ética no Design!

O que é o Design ético?

 

Primeiramente, precisamos analisar o significado da palavra ética. Com uma simples pesquisa no Google, a gente consegue encontrar a seguinte definição, extraída da Oxford Languages:

parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

Mas o que significa ser ético, ou seja, seguir as normas e valores de ordem moral presentes numa sociedade? E, dentro do nosso tópico, como isso se relaciona com o design?

É difícil determinar um padrão do que é ou não ético. Não existe uma lista de certos e errados que possa servir de parâmetro para todas as situações. Há fatores, como a cultura de um determinado povo, que podem transformar em ético o que é considerado imoral para um outro conjunto de pessoas. 

De qualquer forma, para o designer, como em qualquer profissão, é necessário se preocupar em fazer um trabalho ético. Para isso, o ideal é o questionamento: quais são seus direitos e deveres? Como você diferencia o certo do errado? Qual é a melhor atitude a se ter naquele cenário? 

As respostas para essas perguntas podem mudar dependendo do contexto com o qual você estiver lidando. E é aí que você precisa saber em quais valores você acredita. Ter um compasso moral próprio como indivíduo te ajuda a levar esses princípios para sua vida profissional — seu trabalho, seja ele um produto, um site, um campanha de marketing, deve refletir aquilo que você julga ser o certo.

Assumir a responsabilidade pelo que você fez também é uma parte importante da ética. Quando você tem consciência do que está fazendo e toma decisões baseadas no seu conceito de moralidade, o próximo passo é saber lidar com as consequências derivadas de suas escolhas.

Tudo isso pode parecer um pouco abstrato, então a gente vai analisar alguns dos princípios que vão te auxiliar a compreender de que forma a ética se relaciona com o mundo do design.

Princípios da ética no design

1. Usabilidade

 

Os designers devem criar produtos intuitivos e fáceis de utilizar que tornem a experiência mais agradável para os usuários. Jakob Nielsen do Nielsen Norman Group definiu cinco componentes da usabilidade:

Aprendizagem: o quão fácil é para usuários que estão começando a usar?

Eficiência: qual o tempo que os usuários gastam para fazer as tarefas?

Memorabilidade: qual é a experiência para usuários que estão retornando?

Erros: quais são os erros que os usuários cometem e o quão graves eles são?

Satisfação: o quão agradável é o uso do design?

2. Transparência e preocupação com o usuário

 

Expor os detalhes referentes ao produto para que o usuário tome decisões conscientes é uma prática ética. Ao utilizar artifícios para enganar e confundir, você estará agindo de forma desonesta. 

Além disso, há um grande problema: o design criado para viciar. Existem diversos exemplos de sites, aplicativos e produtos que são desenvolvidos com o intuito de prender a atenção do usuário. No entanto, isso é feito em detrimento da sua saúde mental, já que acabam causando um vício. O designer precisa levar em consideração qual será a relação das pessoas com sua criação, tentando sempre estabelecer um vínculo saudável.

3. Privacidade

 

A gente sabe que é muito comum a coleta de dados pessoais por diversos sites e aplicativos. Até nossos aparelhos eletrônicos, como o celular, guardam as mais variadas informações sobre o que gostamos, o que fazemos e onde estamos.

O ideal é criar um design que evite a invasão da privacidade. O foco deve ser em informações necessárias que façam sentido com o objetivo do produto e que vão de fato melhorar a experiência do usuário.

4. Inclusão e acessibilidade

 

Nós já falamos sobre o design inclusivo, e sua relação com a ética é indiscutível. Também deixamos claro que a inclusão não se resume à acessibilidade, sendo a última parte da primeira. 

É papel do designer contribuir para um mundo com menos desigualdades, desenvolvendo projetos com todos os tipos de pessoas em mente. A ética reside no ato de se preocupar com as dificuldades que o usuário pode ter e buscar soluções para extinguir ou diminuir esses problemas.

5. Envolvimento do usuário

 

O design é voltado para o usuário, é pensado para ele, então é natural que ele seja parte do processo de criação. Ouvir a opinião do destinatário final é essencial para alcançar um bom resultado.

Você pode fazer vários testes e perguntar aos usuários o que estão achando. Dessa forma, você estará levando em conta o aspecto humano do Design e colocando o indivíduo no centro do seu projeto.

Como fazer um design mais ético?

1. Preocupe-se com as questões sociais

 

Existem muitos temas sociais que não podem ser ignorados pelo designer. Realizar um trabalho que reproduza algum tipo de preconceito, seja racismo, LGBTQfobia, machismo, capacitismo, xenofobia, ou qualquer outra forma de discrimação terá um impacto extremamente negativo para a sociedade e principalmente para os grupos atingidos.

O preconceito pode estar presente nos detalhes, de maneira sutil, como em frases populares que trazem estereótipos ou inferiorização de uma classe, mas isso não quer dizer que ele não deve ser combatido igualmente! Tudo que possa vir a causar desconforto em um grupo de pessoas precisa ser eliminado do seu design. 

Aqui, voltamos a reforçar a importância do design inclusivo. Para poder respeitar a inclusão, é necessário que você esteja atento às causas sociais e ao que os seus representantes têm a dizer. Não deixar o ego falar mais alto é o diferencial na hora de atender a todos os usuários equitativamente.

2. Estude e atualize-se

 

Tanto para lidar com as questões sociais que a gente acabou de mencionar, quanto para saber o que fazer em qualquer cenário, ler, estudar e se atualizar são tarefas fundamentais! 

A nossa sociedade muda constantemente e, com essas mudanças, surgem novas maneiras de enxergar e se comportar em determinados contextos. Para ser um bom designer, você deve estar atento a um gama de assuntos e não só ao que estiver diretamente ligado ao design e à tecnologia: comportamento humano, questões econômicas e políticas e problemas climáticos são alguns temas que merecem estudo.

Basicamente, tudo que envolve nosso mundo é de seu interesse. Com tanta informação acessível, é seu dever se manter informado e consciente sobre as transformações e evoluções do nosso meio social.

3. Posicione-se

 

Você precisa encontrar seus valores e defendê-los. Se você acredita numa causa social, nada mais justo que dar voz a ela. São muitos os assuntos que podem gerar discussões, então é importante entender em que lado você quer estar.

Busque trabalhar com empresas e clientes que dividam suas filosofias. Por mais que a troca de conhecimentos e informações seja sempre válida, todos têm ideologias básicas que funcionam como guia ético e estão presentes nos seus trabalhos.

As pessoas costumam se conectar com aquilo que reflete suas crenças. Por isso, não vale a pena criar um produto no qual você não acredita. Trabalhe com o que você ama e lembre-se da sua responsabilidade perante a sociedade!

4. Examine a situação

 

Cada caso é um caso, e você não pode se esquecer disso. Na prática, você precisará avaliar o problema para saber qual rumo tomar. Com o que você está lidando e qual a decisão que melhor se alinha com seus valores morais? 

O que pode parecer a solução ideal em alguma situação é inaplicável em outra. É nessa hora que você precisa usar seu senso crítico e analisar os fatos. Para chegar a alguma conclusão, você pode listar suas opções e fazer uma avaliação dos seus prós e contras, levando em consideração o peso ético que cada uma carrega. 

Depois de fazer a escolha e implementá-la no seu projeto, esteja aberto a críticas e opiniões contrárias. Mais uma vez: insistir no que você acredita em detrimento da opinião do usuário não levará a lugar nenhum. A percepção que nós temos pode ser falha e cabe a nós entender que as pessoas podem agregar e nos ajudar a melhorar nosso trabalho.

Design é sobre criar e, assim, mudar o ambiente à sua volta. Para garantir que essa mudança seja feita com cuidado e integridade, qualquer designer precisa de uma boa noção sobre ética. Esperamos que este artigo tenha te ajudado a refletir sobre suas atitudes e sobre como você pode fazer um trabalho moral, responsável e consciente!

"As marcas com mais sucesso se vinculam a comunidades já existentes. Em vez de criar comunidades do zero, eles interagem com comunidades que se formam organicamente. Eles deixam de se comunicar de cima para baixo para terem conversas significativas. Constroem relações que evoluem, crescem e resistem ao tempo."
Sid Lee
The Belong Effect
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