Nós precisamos falar sobre saúde mental – mas não só hoje. Essa discussão precisa acontecer constantemente. Com o problema ganhando mais atenção (como deve ser), as empresas estão voltando os olhos ao seu ambiente de trabalho e como ele está afetando seus funcionários.
Como todos nós sabemos, a pandemia de COVID-19 foi um forte gatilho para doenças mentais. Nossas vidas mudaram completamente: tivemos que ficar em casa sem ter quase nenhum contato físico com outras pessoas. Mais que isso, vivemos com medo, e grande parte de nós perdeu pessoas amadas, o que indiscutivelmente pode ser definido como tempos sombrios. Não é difícil entender por que muitos -se não todos- tiveram dificuldades para lidar com a situação.
Inevitavelmente, a maneira como trabalhamos também mudou. Alguns precisaram continuar trabalhando na rua, arriscando a sua saúde para manter os serviços essenciais funcionando, como profissionais das áreas de saúde, de segurança, de transporte e a lista continua… o perigo constante por estar correndo risco foi um fardo pesado. Para outros, que puderam trabalhar remotamente, a transição pode não ter sido tão fácil, porque eles não tinham a estrutura necessária para criar um bom espaço para trabalhar ou simplesmente porque eles não se adaptaram a esse estilo de trabalho.
No entanto, o problema de saúde mental obviamente existe antes da pandemia, e já vinha piorando. Um de vários estudos sobre o assunto mostrou um aumento considerável em doenças psicológicas entre 1990 e 2019: “Doenças psicológicas contabilizavam estimados 654,8 milhões de casos (95% UI 603,6-708,1) em 1990 e 970,1 milhões de casos (900,9-1044,4) em 2019, correspondendo a um aumento de 48,1% entre 1990 e 2019″¹. E trabalhar pode ser uma grande fonte de estresse e ansiedade. Existem diversos estudos sobre a correlação de problemas psicossociais e o trabalho e o que isso acarreta.


Então, como chegamos aqui? O que há em nossa sociedade que torna tão complicado ter uma relação saudável com o trabalho e com outros aspectos da vida em geral? É difícil apontar um único motivo, ou mesmo fazer uma lista de motivos específicos, já que nós somos indivíduos complexos com nossas próprias lutas e dificuldades, mas existem alguns fatores que definitivamente ajudaram a piorar a situação.
Vivemos numa época em que tudo é imediato e urgente. Queremos tudo agora. Há sempre um senso de urgência, como se precisássemos entregar o máximo que pudermos – ou mais do que realmente podemos. Estamos constantemente on-line consumindo todo tipo de informação e sendo sobrecarregados por ela. Nunca há tempo suficiente para processar, e isso cria uma pressão crescente que nos faz sentir que precisamos alcançar objetivos impossíveis.
Também é comum a nossa sociedade romantizar a ideia de viver para trabalhar. Existe até uma palavra para isso, que tenho certeza que você já ouviu: workaholic. Quantas vezes vemos isso usado como uma coisa boa, uma qualidade, um caminho que somos levados a acreditar que precisamos seguir? Espera-se que façamos do nosso trabalho a nossa principal prioridade, nossas identidades, a ponto de outras partes de nossas vidas não serem tão importantes, como mero ruído de fundo.
Há apenas um fim possível para esse caminho: burnout – um distúrbio mental causado pela exaustão por trabalhar tanto que você não consegue mais trabalhar, ou até mesmo fazer qualquer coisa. Você está completamente exausto ao atingir seu limite, porque está fazendo mais do que você (ou qualquer humano!) é capaz de aguentar.


E o que as empresas e os empregadores devem fazer? Qual é o seu papel para tornar a situação melhor para todos?
Muitas empresas estão disponibilizando assistência aos seus funcionários, com profissionais de saúde mental e folgas de saúde mental. Isso é indiscutivelmente um grande progresso, mas não é suficiente, porque não está atingindo a causa real. O que também precisa ser feito é uma profunda mudança de ideias e formas de atuação.
Os funcionários são seres humanos e devem ser tratados como tal. Não se deve esperar que eles funcionem como uma máquina. Empresas e empregadores precisam analisar sua abordagem, mergulhar profundamente na análise de como funcionam e como estão se conectando com sua equipe. É crucial criar um ambiente seguro onde as pessoas se sintam bem-vindas e respeitadas.
É prioridade da equipe do Studio Venturas estar mentalmente bem, para que todo o trabalho seja feito com o maior cuidado do mundo. Por isso, listamos algumas orientações internas sobre como cuidamos da nossa saúde mental.
Não somos imediatos, nem queremos ser. Temos cronogramas detalhados com nossos clientes, e eles são sempre cumpridos. Projetos com prazo “para ontem” não existem, pois entendemos que isso nos afetará negativamente, além de atrapalhar outros projetos que já estão sendo construídos.
Whatsapp não é local de trabalho. Por que desistir do uso de e-mails? Com eles, respeitamos nosso horário de check-in e check-out, e não precisamos nos preocupar com uma mensagem de um cliente às 2h. Falamos exclusivamente por e-mail, e isso traz uma paz inexplicável.
Entendemos o limite do cliente, e ele precisa entender o nosso. Se orçamos uma entrega X, não adicionamos Y ou Z no meio do processo sem orçar e estender o prazo. Todos os nossos projetos têm tempo extra para pequenas mudanças, por isso sabemos o quão importante é a flexibilidade. Mas sabemos que há um limite para isso.
O trabalho criativo é muitas vezes subvalorizado, e foram necessários muitos anos de trabalho para criar essa “concha” profissional, mas nossa saúde mental não é negociável.
Como acabamos de mencionar, é extremamente importante descobrir onde você deve traçar a linha. Respeite seus limites e não negligencie sua saúde mental. Trate sua equipe com gentileza. Não espere que as pessoas deixem suas vidas de lado para viver e respirar trabalho. A melhor parte de o assunto ser cada vez mais discutido é a conscientização sobre a importância de cuidar da sua saúde mental, por isso não hesite em procurar ajuda se sentir que precisa. Priorize-se.