Web Summit 2020

Esse é o terceiro ano que participo da Web Summit. Os dois últimos no formato presencial, e agora no formato online. E, antes de entrar no assunto das palestras, preciso falar sobre o tamanho da plataforma criada. Em 3 dias, a Web Summit contará com centenas de palestrantes, em uma plataforma desenvolvida por eles durante o ano de 2020 por conta da COVID. São 5 salas principais: Centre (Principal), Creators, Society, Builders e Portugal. Além disso, há um espaço para masterclasses de todos os assuntos, uma área chamada Mingle, em que você é colocado em chat de vídeo por 3 minutos com outra pessoa do evento. Se vocês gostarem da conversa e quiserem continuar, basta adicionar depois. Os participantes também podem criar as próprias salas de fórum, sobre qualquer assunto.

Passando a parte de explicações, me sinto na obrigação de começar aplaudindo de pé o desenvolvimento dessa plataforma. Bem construída, com pouquíssimos problemas, usabilidade claramente levada em consideração. O produto final ficou tão bom que a minha experiência pessoal está sendo muito mais proveitosa do que dos outros anos. E os motivos são simples:
– Se eu não gosto de uma palestra (e isso acontece com frequência), eu posso trocar de sala em um clique. Presencialmente, vi várias palestras que descobri no meio do caminho não ter interesse mas mesmo assim fiquei, porque ir para outra palestra demoraria tanto tempo que, no final, eu não teria assistido a nenhuma das duas.
– Nos últimos Web Summit, o meu foco era unicamente ouvir, não construir novas relações. No formato online esse network acabou acontecendo de forma natural, ao comentar os tópicos das palestras na área de debate, alguém me respondia, depois nos adicionamos e conversamos um pouco mais sobre o assunto. O dia terminou e eu tenho 20 novas amizades virtuais dentro da plataforma. E, com isso, eu já me sinto absorvendo muito mais do que em 2018 e 2019.

 

Pequenas observações

Em uma análise rápida, sem nem assistir a qualquer palestra ou debate, é possível já perceber a diferença de tom do evento. Diferente dos outros anos, o Web Summit desse ano está muito mais focado nos problemas universais. São várias palestras com a palavra “save” no título.

Ao meu ver, o cronograma do Web Summit retrata inconscientemente a humanidade de 2020. Mas os problemas que as palestras acima pretendem resolver com tecnologia não são novos. Tirando a COVID19, a falência ética e moral da indústria da moda e dos alimentos são datadas, mas não foram tão presentes nos eventos passados.

O ano de 2020 foi distópico, no mínimo, e isso me parece traduzir de forma perfeita nos temas do evento. Ano passado, minha maior crítica foi o discurso utópico e superficial das grandes empresas, como a frase que ouvi “o aquecimento global é uma oportunidade para nos unirmos como seres humanos” (dito por uma representante da Google).

E hoje, ao contrário do esperado, já foi enfatizada em um debate a necessidade de regulamentação das big techs, pelo AI Now Institute. O alívio que isso me traz é inenarrável. Finalmente não me parece mais um grupo elitista de pessoas que não se afetam pelos problemas do mundo, e acham realmente que criar um mapa dos topos dos prédios de São Francisco salvará a humanidade de todos os males, já que será possível entender quais prédios podem ter placas solares ou um jardim.

O tom da narrativa, além da energia dos participantes, está diferente. É um evento mais sóbrio, que trouxe mais temáticas como a luta antirracista, a necessidade urgente de diversidade por trás do desenvolvimento de tecnologias, o debate de como é ser mulher dentro do universo da tecnologia…

Importante pontuar que o próprio Web Summit ainda tem um longo caminho pela frente: mesmo com as mesas de debates raciais, por exemplo, são poucos os participantes negros. Há muitas mulheres (me parece ser praticamente a metade), mas pouquíssimos negros.

Ainda temos 2 dias de eventos pela frente, mas essa é a minha análise inicial. Vamos ver o que os próximos dias de evento trarão!

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