Vamos conversar sobre ESG?

Essa é a primeira de uma série de entrevistas que vamos fazer ao longo dos meses, para trazer diversos assuntos com os olhos de especialistas em suas áreas. Esse é o momento de entendermos mais sobre um assunto com quem pode falar em primeira mão. Por isso, aproveitem! É uma construção contínua para os nossos leitores.

A primeira convidada é a Nelma Zero, parceira de longa data da nossa equipe. Ela vai contar um pouco sobre o que é ESG. Mas antes, sobre ela:

Pós-graduada em Meio Ambiente e Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas. Bacharel em Comunicação Social com foco em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mentora e ativista ambiental no Climate Reality Project – Al Gore. Multiplicadora B Corps. Atuou por 15 anos na área de comunicação, tendo passado por agências de propaganda e marketing direto como atendimento/planejamento e por diversos departamentos de marketing ao longo dos anos. A partir de 2012, passou a atuar em empresas e consultorias na área de marketing e planejamento estratégico, em clientes de pequeno e médio porte e na construção de plano de negócios e estratégia de mercado para projetos, produtos e articulação de novos negócios. Em 2017 começou a atuar no mercado de sustentabilidade e negócios de impacto, como diretora executiva do negócio de impacto Atuação no Mundo e desde 2019 atua como consultora de estratégias de impacto positivo em diferentes projetos no mercado de Investimento Social Privado e Sustentabilidade. Hoje pela empresa própria Zero&Co, que atua sempre em rede com outras empresas do mercado.

O que significa ESG?

ESG é a sigla para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), que são os critérios usados pelo mercado financeiro para avaliar as ações e atividades das empresas em relação à sustentabilidade socioambiental.

A sustentabilidade vem do conceito estabelecido pela ONU em 1987, no relatório de Brundtland, de desenvolvimento sustentável, que diz que: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.”

Para que o desenvolvimento sustentável fosse possível, não somente os governos de todo o mundo foram incentivados a adotar modelos de gestão que levassem isso em consideração, mas também as empresas em seus modelos de negócio. O sociólogo e escritor britânico John Elkington foi o primeiro a falar de sustentabilidade no âmbito dos negócios e a considerá-la como parte de um tripé (Triple Bottom Line), adicionando às discussões ambientais o viés econômico e social.

De lá para cá, os conceitos e suas aplicações no modelo de negócios, nas estratégias e no dia a dia das empresas vêm avançando a cada dia. Mas para que a sustentabilidade pudesse agregar valor para os negócios e isso pudesse ser conferido por investidores, consumidores e pelo poder público era preciso que as estratégias e ações de sustentabilidade das empresas pudessem ser medidas em números e monitoradas ao longo do tempo com análises periódicas que indicavam os resultados e são a base para o estabelecimento de novas metas.

Com isso, foi criado o conceito ESG, que se refere às boas práticas empresariais que se preocupam com critérios ambientais, sociais e parâmetros de excelente governança. Este termo aparece pela primeira vez em uma publicação de 2004 do Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial, intitulada ”Who Cares Wins” que cunhou o termo ESG, ele surgiu de um desafio do então secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEO’s de grandes organizações financeiras

“o que existem são standards de mercado (GRI, SAASB, S&P, etc) que podem ser usados para elaborar o relatório de sustentabilidade que é a principal ferramenta que uma empresa pode utilizar para relatar o seu desempenho nas esferas ambiental, social e econômica a todos os principais interessados em suas atividades, como acionistas, clientes, parceiros e colaboradores.”

Como se implementa?
Existe algum guia, há diretrizes?
São regras fixas?

Como o ESG é um conjunto de práticas que estão no dia a dia das empresas, sua forma de implementação mais abrangente começa com uma estratégia de sustentabilidade e impacto de forma global, depois com o mapeamento dos dados e informações atuais da empresa em relação a estas práticas na atualidade e por fim com um plano de metas e ações para alcançar as metas ao longo do tempo. Uma das partes mais importantes do plano de ação é a determinação de quais serão os indicadores em cada área ambiental, social e governança que serão implementados e/ou melhorados, monitorados e reportados ao final de cada ano, ao longo do tempo.

Para o desenho da estratégia de sustentabilidade e impacto que estará por trás do ESG a empresa pode partir dos ODS – ONU (17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU) que têm uma agenda de metas e resultados que se deseja chegar até 2030 para o planeta como um todo. Entender como a empresa, sua operação e modelo de negócio poderão contribuir com eles, estabelecendo assim os indicadores que serão implementados/melhorados e monitorados em cada área e que é preciso ser feito para isso.

Não existem regras fixas para uma implementação das práticas ESG dentro dos modelos de negócios das empresas, o que existem são standards de mercado (GRI, SAASB, S&P, etc) que podem ser usados para elaborar o relatório de sustentabilidade que é a principal ferramenta que uma empresa pode utilizar para relatar o seu desempenho nas esferas ambiental, social e econômica a todos os principais interessados em suas atividades, como acionistas, clientes, parceiros e colaboradores.

Os standards que serão escolhidos para relatar as atividades de sustentabilidade e impacto da empresa podem ser usados como base de um modelo de gestão de sustentabilidade das empresas, que inclui a medição, monitoramento e indicadores que balizam o desenvolvimento das práticas empresariais.

Qualquer área empresarial pode implementar ESG? Desde uma empresa que desenvolve brinquedos para cachorro, até uma construtora civil?

Sim, como ESG são boas práticas empresariais relacionadas ao impacto do negócio (seja ele qual for) em relação aos fatores, ambientais, sociais e de governança, toda e qualquer empresa de qualquer mercado pode trabalhar no desenvolvimento da sua estratégia de sustentabilidade e impacto e a partir dela no desenvolvimento, implementação, melhorias, monitoramento e relatoria dos seus indicadores.

Neste processo o importante não é de onde vêm, ou qual mercado a empresa está inserida e sim para onde ela quer ir, já que hoje cada dia mais o mercado financeiro valoriza e coloca dinheiro em empresas que estão trabalhando seus fatores ESG e contribuindo para sociedade e o planeta. Os consumidores por sua vez vêm entendendo seu papel como um ativo de cobrança e decisão em relação às práticas empresariais na hora de decidir suas compras. E os colaboradores e fornecedores, ainda mais aqueles que contam com uma força mais jovem de trabalho, também têm buscado locais de trabalho que estejam alinhados com estas práticas.

No meu entendimento, para o desenvolvimento e implementação das práticas ESG dentro de uma empresa o mais importante é desenhar a base, uma estratégia alinhada com o momento atual e com o planejamento estratégico da empresa e que em sua construção conte com todos os decisores da empresa, para que todos se comprometam na implementação ao longo do tempo.

“Neste processo o importante não é de onde vêm, ou qual mercado a empresa está inserida e sim para onde ela quer ir, já que hoje cada dia mais o mercado financeiro valoriza e coloca dinheiro em empresas que estão trabalhando seus fatores ESG e contribuindo para sociedade e o planeta.”

Uma empresa que tem a ESG como pilar. O que se pode esperar dela, na prática?

O que podemos esperar e checar se está de fato sendo feito (!) é se a empresa está comprometida – praticando e monitorando – em se desenvolver, investindo em zerar ou pelo menos mitigar seus impactos negativos e investindo em seus impactos positivos no meio ambiente, na sociedade e de forma transparente e organizada, que possa servir como uma referência para outros de seu próprio mercado e além.

Hoje e cada vez mais nos próximos anos, a sustentabilidade e as práticas ESG vão se tornar o padrão e não mais uma tendência a ser adotada ou não, porque as boas práticas também fazem bem para as finanças das empresas. Quando mais informação (dados) a empresa têm sobre todos os seus impactos e quanto mais ela investe para zerar, mitigar e transformar mais ela demonstra que está ciente dos riscos de sua atuação e investindo para diminuir, o que consequentemente aumenta o valor agregado da empresa perantes o mercado e seus investidores e barateia o dinheiro que ela pode acessar para crescer.

Essa transição cultural, ela é rápida? Ou é algo a longo prazo?

Se você está se referindo a uma transição cultural de um mundo onde as empresas em sua maioria são e/ou já nascem pelas boas práticas ESG. Estas práticas vêm sendo fomentadas e trabalhadas a mais de 30 anos e somente nos últimos anos ganhou mais relevância, especificamente com a pandemia e a Guerra da Ucrânia ela ganhou uma urgência. Com os compromissos firmados nas conferências internacionais, entre governos, empresas e mercado financeiro para destravar investimentos, estima-se que esta transição dure ainda 01 década para se estabilizar.

Se você estiver se referindo a uma transição cultural interna das empresas como foco na implementação das práticas ESG, a velocidade vai depender de alguns fatores combinados:
Uma estratégia construída pelos tomadores de decisão, validada pelo conselho ou donos e com recursos e pessoas para ser implementada. Profissionais internos e/ou externos (consultorias) que possam apoiar os diferentes momentos e ações que têm que ser feitas. E investidores comprometidos em financiar a transição da cultura empresarial com investimentos de impacto e responsáveis.

Como se verifica se está funcionando ou não? Há auditoria? Quem controla?

O caminho é o monitoramento dos indicadores, das metas, dos processos e planos de implementação das ações que foram definidas a cada ano. Os standards que citei anteriormente são usados para determinar o caminho de monitoramento dos indicadores, dependendo da escolha estratégia da empresa em relação às suas práticas ESG. O monitoramento pode ser feito pelos analistas de sustentabilidade da empresa com ou sem o suporte de ferramentas tecnológicas/ plataformas de dados que fazem as compilações e análises por BI.

Podem ser feitas auditorias que atestem que o que está sendo reportado ano a ano nos relatórios de sustentabilidade e impacto, está de fato sendo realizado pela empresa. Normalmente estas auditorias são feitas em momentos de aportes de investimento, criação de ESG Bonds da empresa, abertura de capital na Bolsa ou em outros momentos que a empresa será avaliada externamente para alguma transação importante.

“Na elaboração dos indicadores ESG que serão implementados, acompanhados, melhorados e monitorados ao longo do tempo nas empresas, relacionamos as metas dos indicadores com os ODS ONU para entender a contribuição das empresas em relação aos objetivos e com os tempos determinados na Agenda 2030.”

Como as práticas ESG se comunicam com os ODS ONU? Há relação?

O ESG está para ODS ONU como as provas de vestibular estão para as pontuações que fazem os candidatos passarem nas provas.

A relação entre eles é que os ODS foram criados pela ONU como objetivos, metas que devemos como pessoas, como parte das sociedades pertencentes ao mesmo planeta, atingir para preservar a vida no planeta e trazer o crescimento populacional e econômico do mundo para uma rota que inclua a preservação e regeneração do que foi destruído, tornando o futuro possível para todas as vidas que aqui estiverem.
Os ODS ONU começaram a ser formatados nos anos 2000, com o lançamento dos 08 Objetivos do Milênio e em 2015 ganharam outro corpo com o lançamento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nos anos seguintes foi elaborada uma agenda de implementação com metas a serem atingidas de 2020 a 2030 e junto o entendimento de que o atingimento destas metas precisa ser responsabilidade de pessoas, empresas e governos no mundo todo.

O ESG são as práticas a serem adotadas pelas empresas para que possam contribuir com os ODS ONU no que diz respeito aos impactos que cada uma em seu mercado, ambiente e atuação causam ao planeta, para as pessoas e para sociedade.

Na elaboração dos indicadores ESG que serão implementados, acompanhados, melhorados e monitorados ao longo do tempo nas empresas, relacionamos as metas dos indicadores com os ODS ONU para entender a contribuição das empresas em relação aos objetivos e com os tempos determinados na Agenda 2030.

Quão importante é saber hoje sobre ESG? Acha que é uma tendência que tende a se fortalecer no futuro?

O ESG não é mais uma tendência, ele já está no mundo corporativo e financeiro a alguns anos e agora com os acontecimentos recentes da pandemia, guerra na Ucrânia e mudanças climáticas tende na verdade a se acentuar e acelerar nos próximos anos. Principalmente por que a ONU, junto com diferentes organizações financeiras – investidores, bancos de desenvolvimento, bancos centrais – vêm assumindo compromissos cada dia maiores em direcionar capital para investimento e aceleração da economia mundial atual para uma economia de baixo carbono, que preserva e garante a vida futura no planeta. Afinal, não existe economia se não existir um planeta.

Como pessoas, é importante saber do ESG por que vivemos em um economia capitalista que está em um momento histórico de mudança e transição e se pudermos em nossos atos diários e escolhas de consumo decidir por empresas e produtos melhores para todos, podemos contribuir com esta mudança.

Como profissionais é importante saber do ESG por que em algum momento estas práticas vão chegar em nosso trabalho cotidiano, seja no formato de um projeto interno da empresa onde você trabalha ou como uma oportunidade de mudança na carreira, já que as empresas caminham para onde caminha o fluxo de capital e mais cedo ou mais tarde isso vai chegar na sua àrea e na sua mesa.

Como cidadãos é importante entender como o ESG pode contribuir nas políticas públicas, na gestão pública e no cotidiano de como construímos e reconstruímos nossas cidades e nossas vidas nas cidades ao redor do mundo. Os dados da ONU-Habitat deste ano (2022) demonstram que até 2050 68% da população mundial viverá nas cidades e não nas zonas rurais.

Acredito que a importância de sabermos mais sobre ESG, suas aplicações e seus impactos vêm do fato de que não é possível evoluir, crescer e se transformar, percorrendo o mesmo caminho que nos trouxe até aqui com um planeta aquecido e 9,8% da população mundial, cerca de 830 milhões de pessoas passando fome enquanto a economia global gira 480 trilhões de dólares todos os anos. Precisamos de novos caminhos, e o ESG é um novo caminho de desenvolvimento de empresas, sociedade, economias e para o planeta.

Como dizia Albert Einstein, ‘Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.’

“Como profissionais é importante saber do ESG por que em algum momento estas práticas vão chegar em nosso trabalho cotidiano, seja no formato de um projeto interno da empresa onde você trabalha ou como uma oportunidade de mudança na carreira”

Qual o seu papel nisso? Como você pode ajudar? Em qual etapa?

Eu sou uma consultora de negócios que apoia as empresas, organizações ou projetos no desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade e impacto para si, para cadeia de fornecedores, para projetos e/ou empresas investidas.

Minha atuação é na etapa de planejamento estratégico, onde é desenhada a estratégia de impacto, os indicadores, o plano de implementação das metas e as ações para que as metas sejam atingidas e os indicadores desenvolvidos e depois monitorados.

Minha atuação pode acontecer em diferentes momentos das empresa e dos projetos em relação a sustentabilidade e impacto: 1) Estágio Inicial ; 2) Estágio Intermediário; 3) Estágio Avançado

1) Estágio Inicial
Neste momento inicial minha atuação vai desde o desenvolvimento de um diagnóstico, passando pelo mapeamento das ações que estão sendo realizadas, benchmark de como o mercado e concorrentes estão desenvolvendo o ESG até o desenvolvimento da estratégia de impacto junto com a liderança da empresa.

2) Estágio Intermediário
Neste momento intermediário a minha atuação vai desde o desenvolvimento das ações para o atingimento das metas, definição de cronograma, desenho do time de implantação, dos investimentos, etc até o desenvolvimento e implementação dos processos de monitoramento e report das ações, indicadores, impactos e próxima metas.

3) Estágio Avançado
Neste momento mais avançado a minha atuação vai desde o plano de implementação das práticas ESG, indicadores e metas para as cadeias de fornecedores, passando por desenvolvimento institucional para certificação (B Corp, WEPs ONU Mulheres, Pacto Global, etc) até desenvolvimento e implementação de projetos de sustentabilidade e impacto internos ou em parceria com organizações nacionais e internacionais.

O que a empresa precisa ter em mente antes de te contratar? O que esperar um processo de transição? Tempo? Equipe?

Para a contratação de uma consultoria de estratégia é preciso que a empresa tenha em mente que a liderança terá que dedicar algum tempo participando de reuniões e workshops para que os caminhos sejam co-construídos por aqueles que internamente têm a responsabilidade e capacidade de implementar o que for planejado e decidido estrategicamente. Além de ter a indicação de um time que pode ser focado (em sustentabilidade) ou de um grupo de trabalho com pessoas de diferentes áreas participantes e com responsabilidades compartilhadas dentro de um comitê de sustentabilidade que irá acompanhar e contribuir com todo o trabalho da consultoria ao longo dos meses.

Do lado da consultoria, o time que será chamado a participar de cada trabalho vai depender um pouco da demanda do cliente e foco do trabalho. Na Zero&Co trabalhamos com uma rede de parceiros especialistas que são contratados por projetos.

O processo de uma empresa para começar a implementar as práticas ESG, como todo processo de transição é uma jornada que terá acertos e erros, além de um aprendizado constante. E como toda jornada é preciso que todos, principalmente os envolvidos diretamente estejam abertos e dispostos a construir juntos essa jornada, que ao final vai fortalecer a empresa e cada um individualmente para contribuir com as melhores práticas ESG para a sua empresa continuamente.

Os tempos desta jornada dependem um pouco do envolvimento e tempo disponibilizado pelos envolvidos no processo da consultoria. Sempre recomendo que não seja um tempo muito longo em cada etapa, para que o foco não seja perdido e as demandas do dia a dia não atropelem o processo construtivo. Minha sugestão aos clientes para cada estágio é uma média de 02 a 03 meses por etapa no máximo, com um cronograma de ambas as partes e metas de entregas do processo.

Como potenciais clientes podem entrar em contato contigo?

Estou disponível por email, telefone ou Linkedin. Segue meus contatos:

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