Você entra numa loja e começa a olhar os produtos na prateleira. Existem várias opções, mas, dentre todas elas, você pega um e o leva para casa.
O que você considera ter sido fundamental para sua escolha? A marca, o preço, a funcionalidade, a aparência? São muitos os fatores que podem induzir alguém a comprar determinado item, e entender a psicologia por trás dessas decisões é superimportante para o designer. É assim que ele consegue desenvolver produtos que atraem consumidores e usuários.
Nesse contexto, nasceu o design emocional, criado com o intuito de tentar explicar o que faz a gente escolher usar (e continuar usando) algum produto. Vem com a gente, então, analisar seu conceito e o impacto que ele tem nas relações entre o produto e o consumidor.
O que é design emocional?
A ideia foi elaborada pelo cientista cognitivo Donald Norman, que escreveu o livro Emotional Design: Why We Love (or Hate) Everyday Things (Design Emocional: Por que Nós Amamos (ou Odiamos) Coisas do Dia-a-dia). De acordo com ele, o design emocional é sobre usar o design para despertar emoções específicas nos usuários e consumidores finais, criando uma conexão entre eles e o produto.
Quando se desenvolve um produto, é comum prestar atenção a detalhes como o material escolhido, método, custo, fabricação, comercialização, dentre outros fatores técnicos, mas Norman nos ensina que o aspecto emocional é um ponto extremamente relevante.
É preciso entender os sentimentos humanos e o que atrai cada pessoa, a fim de criar um produto que seja, ao mesmo tempo, bonito e funcional. Devem ser levados em consideração os desejos, instintos e emoções das pessoas, para entrar no subconsciente delas e garantir uma experiência positiva e agradável que as faça voltar constantemente.
Para a gente conseguir visualizar melhor as respostas e percepções humanas e como o design emocional interfere na relação produto-consumidor, Norman dividiu em três os níveis emocionais:
Nível visceral
Esse nível representa o primeiro contato com o produto. Está relacionado ao subconsciente, que se manifesta como um instinto, um impulso natural: você pode amar ou odiar de imediato. É nosso lado sensorial agindo e, por isso, não depende da razão e não há como controlar.
Você já bateu o olho num item e ficou com vontade de comprar na hora? Sem precisar ter maiores detalhes, só por alguma característica visual que o atraiu. Ou então o contrário: decidiu no mesmo momento que não queria ter aquilo? É no nível visceral que essa decisão ocorre.
Segundo Norman, muitas vezes, por acharmos algo bonito, acreditamos que ele funciona melhor que os outros e, por isso, até superamos problemas de usabilidade — ou seja, a estética acaba superando a funcionalidade. Vai dizer que você nunca comprou algo que você sabia que não tinha muita utilidade só por ter achado lindo?
Uma maneira de conseguir mexer com o usuário neste nível é fazendo uso de cores, formas e estilos de uma época determinada. Você pode também usar fotos de animais, crianças, personagens de desenho, se quiser dar uma aparência jovem. O design visceral tem o propósito de entrar na cabeça dos usuários para compreender como melhorar sua experiência ou como fazê-los comprar.
Nível comportamental
Ainda estamos no subconsciente, mas agora num nível intermediário. Nesse momento, o usuário já tem o poder controle, e ele está preocupado com a usabilidade do produto e com o quão prazeroso será o seu uso.
Todo mundo gosta de sentir que está conseguindo realizar uma tarefa, da maneira mais simples e prática possível. Os usuários vão, então, analisar como o design está contribuindo para isso.
Os designers de comportamento estudam e combinam conceitos de psicologia, design, tecnologia e métodos criativos para descobrir por que e como as pessoas agem, a fim de fazê-las mudar seu comportamento.
Nível reflexivo
É o superego. Aqui, nós estamos conscientes das nossas emoções, percebendo e refletindo sobre o que está acontecendo à nossa volta. E é a partir disso que nos conectamos com o produto.
Existem muitas formas de criar uma ligação com o produto e, mais ainda, como ele pode nos representar. Você já parou para pensar como certas coisas o ajudam a construir sua personalidade e seu estilo de vida? Não só para formar uma imagem para os outros, mas a visão que você quer ter de si mesmo.
Além disso, o sentimento que temos ao usar um determinado produto nos faz desencadear memórias afetivas e familiaridade com ele. Portanto, este nível representa, basicamente, o que valorizamos ou não — é o orgulho que você sente de estar usando algo e como pode ser representado por ele.
O objetivo é atingir os três níveis. Assim, você garantirá que os usuários irão aprovar e escolher seu produto. Mas como pôr o conceito em prática?
1. Conte sua história
Dividir sua história com o usuário é essencial para que ele possa se identificar com o seu produto. No nosso post sobre branding, já explicamos o quão importante é criar laços com os consumidores.
Quando conseguimos entender tudo que há por trás do produto, inclusive sua origem, é muito mais fácil nos tornarmos usuários fiéis. Tem a ver com o nível reflexivo, já que, nos conectando, podemos desenvolver afeto e nos sentir representados.
2. Pense na experiência do usuário/consumidor
A experiência do usuário e do consumidor é um tema muito comentado no mundo do design. A cada dia mais, os consumidores demandam que o produto seja funcional e prático, proporcionando uma experiência agradável e satisfatória.
Nós vimos que isso se aplica ao nível comportamental, no qual é esperado ter um design que possibilite o prazer e a facilidade no uso de um produto. Garantir isso é um dos principais objetivos ao desenvolver um produto!
3. Escolha os elementos com cuidado
A atenção a todos os elementos que compõem o design é indispensável para a elaboração de um produto que desperte emoções nos consumidores. Avalie qual emoção você pretende causar, e trabalhe em cima disso.
A embalagem é um ponto importante: ela precisa ser atrativa, afinal é nela que o produto será exposto ou guardado.
O uso de cores e contrastes também pode contribuir para induzir determinado sentimento e para deixar o design mais instigante.
Você ainda pode usar uma linguagem compatível com a sensação que deseja passar, com frases, termos, fontes e estilos que transmitam sua mensagem.
Criar um mascote é uma opção legal para fortalecer a conexão com o usuário. Ele vai trazer familiaridade, proximidade e identificação.
4. Dê uma personalidade ao produto
Muitos produtos e marcas têm o poder de ditar quem nós somos. Inclusive, é com esse intuito que várias pessoas compram determinado artigo: mostrar sua personalidade. A gente comentou isso quando falamos sobre o nível reflexivo.
Você deve definir como você quer que seu produto seja visto e qual estilo de vida ele irá representar. A Apple é um bom exemplo disso. Ter um iPhone é mais que ter um smartphone — as pessoas não o compram apenas pelas suas especificações técnicas, mas sim, muito mais pelo design, elegância e status que a marca carrega.
5. Personalize a experiência
Cada usuário é único, e é assim que ele deve se sentir. Que outra maneira seria melhor para gerar emoções e encantar consumidores? Eles precisam se ver no produto. Para isso, é importante descobrir seus gostos e interesses, além de dados básicos do público-alvo, como idade, gênero, condição financeira e motivação.
Ao analisar o perfil dos usuários e tentar encontrar maneiras para que eles possam customizar a experiência de acordo com suas características pessoais, você fará com que eles se identifiquem com o produto muito mais!
Gostou de aprender sobre a influência do design nas emoções humanas? É bem interessante saber como podemos ser impactados pelo design, né?! Agora você pode usar nossas dicas para, no desenvolvimento de um produto, despertar nos usuários sensações e sentimentos específicos pertinentes à experiência que você deseja criar!